Resultado do trabalho desenvolvido para a Bolsa 2012 e realizado durante o ano de 2012 e 2013.
“A morte é uma flor que só abre uma vez”, é o primeiro verso de um poema de Paul Celan que muitas vezes esteve presente durante a execução deste trabalho. Sempre que morre alguém que foi fotografado por António Gonçalves Pedro (AGP) é enterrado um pedaço do património colectivo de Mora e também do processo do seu trabalho. A memória é vulnerável e preservá-la implica uma constante corrida contra o tempo. Estudar e arquivar devidamente a obra de um fotógrafo como AGP é urgente, e o apoio de todos essencial.
Não ter conhecido pessoalmente em vida AGP é uma fissura permanente em qualquer pesquisa que tente fazer sobre a sua obra. Posta esta urgência em encontrar com vida o maior número de pessoas fotogradas por ele, optei por concentrar todo o esforço em redor do livro editado em 2003. Este constitui um trabalho de muito tempo, de olhar criterioso e valioso que conceptualmente não pude ignorar.
O livro tornou-se, então, o centro do meu mundo. Procurei e fotografei as suas personagens. Passei-o de mão em mão, por entre olhos e ouvidos, sempre na esperança de uma identificação viva e de uma morada. Andava invariavelmente comigo, influindo em todas as relações e revelações, transformou-se num álbum de família contínuo, um álbum revisitado que não parava de se adensar com novas histórias, encontros e desencontros. Em pouco tempo, eu já não era o fotógrafo que pedia informações mas também alguém que informava e que recontava as notícias de quem se perdeu rasto no decorrer dos anos.
Nelson D’Aires
2013
Capa mole com badanas integrais
235 × 280 mm
64 páginas
68 fotografias
isbn 978-989-97338-4-8