O meu trabalho sobre os Estados Unidos da América tem sido desde sempre uma tentativa de encontrar imagens que se relacionem com o meu estado de espírito sobre o meu próprio país. Por vezes senti um país com os olhos tão tapados pelo vermelho, branco e azul, que se tornou cego. Cego pelo nacionalismo. Outras vezes, uma nação em crise extrema, num sentimento de depressão. Guerras longas e contínuas e uma economia que parece precipitar o país nesta perda de optimismo. As imagens, que vejo e sinto, são o meu estudo antropológico sobre um período da história dos EUA. Espero que passem no teste do tempo.
Christopher Morris
Há dez anos, Christopher Morris veio a Lisboa com James Nachtwey, outro dos fundadores da Agência VII, para participarem no júri do concurso de fotojornalismo da revista Visão. Durante a conferência que se seguiu à entrega dos prémios, Morris projectou um trabalho que tinha feito no ano anterior na Coreia do Norte. Uma história em imagens de um país pobre, parado no tempo, dominado pelo culto de Kim Il-sung e com a omnipresença do exército. Uma reportagem que não perdeu actualidade e da qual ainda retenho algumas imagens.
Regressou em 2014, dessa vez ao Alentejo, para integrar o júri do Prémio ESTAÇÃO IMAGEM | Mora, e o seu espírito livre de preconceitos alimentou, durante a conferência, um debate caloroso pelo facto de o júri ter transferido uma reportagem de uma largada de touros da categoria de espectáculos para a de desporto. Estavam em confronto duas visões diferentes: uma europeia, que entendia que era um espectáculo de cultura tradicional, e a de Morris, que a via como uma actividade meramente desportiva.
Ao longo dos anos, Morris tem desenvolvido um trabalho sobre os americanos que já foi exposto várias vezes e publicado em livros, mas nunca com o alinhamento e a escolha de fotografias que estão neste site. É um trabalho intemporal este que aqui vos apresentamos, onde os americanos olham mais para dentro de si próprios do que para o exterior, onde a solidão habita as pessoas fotografadas, e em que as armas, a bandeira e a guerra criam uma atmosfera tensa e pesada. No entanto, e apesar de ter sido ele próprio agredido recentemente por um segurança num comício de Donald Trump, quando tentava fotografar o protesto que podem ver na imagem 29, Morris tem um olhar terno e preocupado para com os seus compatriotas e o seu país.
Sinto-me honrado pela confiança que Christopher Morris depositou na ESTAÇÃO IMAGEM.
Luís Vasconcelos
CHRISTOPHER MORRIS nasceu em 1958, na Califórnia. Actualmente com base em Paris, começou a sua carreira como fotógrafo documentalista de conflitos trabalhando quase exclusivamente para a revista TIME, onde se mantém desde 1990. Foi reconhecido pelo seu papel na redefinição da cobertura política nos EUA enquanto fotojornalista a trabalhar na Casa Branca para a revista TIME entre os anos 2000 e 2009. Em simultâneo com a sua actividade de fotojornalista, Morris alargou o seu trabalho ao mundo da moda. Recebeu vários prémios, destacando-se a Medalha de Ouro Robert Capa, o Prémio Olivier Rebbot, o Prémio Jornalismo do Overseas Press Club, dois Infinity Awards de fotojornalismo do International Center of Photography em Nova Iorque, o PDN Look Fashion Editorial Award, bem como numerosos prémios da World Press Photo. Morris é membro fundador da Agência VII de fotojornalismo, sediada em Nova Iorque.
Textos
Christopher Morris
Luís Vasconcelos
Design
Susana Cruz
Tradução
Vera Baeta
Revisão
Susana Baeta
Impressão e acabamento
Norprint
1.a edição
Abril 2016
Capa mole com badanas integrais
235 × 280 mm
32 páginas
30 fotografias
bilingue
isbn 978-989-99586-3-0