De Coimbra, fica um tempo que não passa
Neste passar de um tempo que não volta
Manuel Alegre
Em 2005 mudei-me para Coimbra, onde vivi até finais de 2007. De Coimbra tenho a memória do fervoroso mês de Maio e do deserto e interminável mês de Agosto. A Saudade nasce na partida, e no regresso entende-se que tudo permanece intacto, como se nada tivesse mudado e é aí que Coimbra nos engana. De Coimbra levámos muito mas deixámos pouco.
Coimbra foi a primeira capital do Reino de Portugal e é actualmente a terceira cidade do país. Devido à sua Universidade, fundada em 1290 por D. Dinis I, Coimbra é conhecida por cidade dos estudantes, a terra da saudade. Sendo uma cidade universitária, a transitoriedade é um dos grandes paradigmas de Coimbra. Um ponto de passagem onde muitas pessoas não se fixam. Foi ao acaso que encontrei Coimbra e Arredores, 1927, um pequeno livro de Marques dos Santos editado pela Comissão de Turismo de Coimbra. O livro apresenta a situação e aspecto geral da cidade e oferece ao visitante três itinerários através das principais atracções e monumentos da cidade. Essa Coimbra de 1927, ainda numa fase prematura do Estado Novo, viria a sofrer alterações significativas na sua arquitectura: a nova cidade universitária e o Portugal dos Pequenitos. Historicamente, acontecimentos como a revolução académica de 1969 viriam a ser marcantes para a cidade, tal como para o país. Para muitos, a revolução começou em Coimbra.
Proponho para Bolsa Estação Imagem 2018 Coimbra, à imagem do livro de Coimbra e Arredores, apresentar a situação actual da cidade. Pegando no livro como ponto de partida, escolho o 3.o itinerário porque penso ser o mais nostálgico e o mais adequado para a representação da cidade.
Os locais que constituem o 3.o itinerário são: Aqueduto de S. Sebastião; Jardim Botânico; Edifício de S. Bento; Hospital Militar; Seminário Episcopal; Penedo da Saudade; Convento de Santa Teresa; Instituto Geofísico; Santo António dos Olivais; Penedo da Meditação; Mosteiro de Celas; Cemitério da Conchada; Parque de Santa Cruz. Contudo, não pretendo limitar o trabalho à simples catalogação dos locais que acima referi. O objectivo será criar um percurso através destes sítios, usando-os como meros pontos de referência no percurso. Penso ser relevante um levantamento fotográfico do que foi, do que é, e do que poderá ser. Recorrendo ao arquivo histórico e à prática fotográfica, pretendo registar e documentar a evolução da cidade através de um itinerário turístico com quase um século. Sendo o turismo um tema que cada vez mais é debatido na opinião pública, importa estabelecer ligações e, fundamentalmente, a relativização entre o que é a memória pública e o presente de Coimbra.
Bruno Silva
Abril 2018