A ESTAÇÃO IMAGEM, com o apoio da Câmara Municipal de Coimbra, atribui uma bolsa anual destinada à realização de um projecto documental sobre a região. O trabalho é publicado em livro e divulgado através de uma exposição.
Levantados do chão
Antes era o Volfrâmio e o Urânio, hoje é o Lítio, mais de um século de exploração mineira em Portugal. A região centro do país está marcada pela exploração mineira desde há mais de um século. As minas da Panasqueira, onde se explora o Volfrâmio e o cobre são as maiores de Portugal e das maiores da Europa, tendo cerca de 12 mil km de túneis subterrâneos, escavados desde a sua construção inicial em 1895. Inicialmente o complexo mineiro de extracção e processamento concentrava-se entre o Cabeço do Pião, concelho do Fundão, e na aldeia da Panasqueira, concelho da Covilhã, mas depois expandiu-se. Actualmente a entrada da mina situa-se na zona da Barroca Grande. O impacto na paisagem em Cabeço de Pião é avassalador. Este complexo mineiro devido à sua escala, tempo de exploração, importância económica e impacte ambiental acabou por ter um papel preponderante na formação da identidade, tecido social e história das Beiras, em que se insere a região de Coimbra. Escádia Grande é uma mina explorada desde o tempo do Romanos. A minha família tem raízes na aldeia da Felgueira Velha, distrito de Coimbra. O meu avô paterno trabalhou nas minas da Ugeiriça em Canas de Senhorim, onde se explorava o Urânio, durante 30 anos, o meu tio mais velho, seu filho, 15 anos até ao seu fecho. Ambos tinham “subsídio do pó” e seguro de doenças profissionais. Eu ainda criança, imaginava-lhes o rosto e os pulmões cobertos de pó. Não sabia eu que esse pó era radioactivo e que o níveis de radão, eram extremamente elevados nestas minas. Naquela altura nesta região havia três soluções de emprego, a agricultura, as minas, ou emigrar. A família era numerosa, a solução foi a mina. Há um elevado número de doentes oncológicos entre antigos trabalhadores da mina, sobretudo cancro do pulmão. Hoje o foco da exploração mineira em Portugal é o lítio, do qual o país é detentor da nona maior reserva mundial, a maior na Europa, em particular a zona de Guarda-Mangualde. A exploração Volfrâmio e Urânio foram fundamentais durante as guerras mundiais, e no crescimento económico baseado em industrias pesadas do pós-guerra. Actualmente, a necessidade de lítio é oposta a este paradigma, e tem como base as energias verdes. O lítio é fundamental para produção das baterias que usamos desde os telemóveis, pacemakers, até aos veículos eléctricos, vectores fundamentais da transição energética. Mas a história diz-nos que exploração mineira tem sempre um custo humano e ambiental. Neste trabalho documental de pesquisa proponho investigar e documentar o passado da exploração mineira na região e o impacto que a nova exploração tem e terá no futuro nos distritos de Coimbra, Viseu, Castelo Branco e Guarda. Para que se evitem os erros do passado e se aumente a qualidade de vida do sector da exploração mineira. Pretendo fazer series de retratos às pessoas envolvidas no passado e presente das minhas, à paisagem e às suas consequências directas no ambiente, tendo como pano de fundo as comunidades locais.