Do Minho se fez Portugal, abrindo braços não só para terra, mas também para o mar. E de mareantes se fez grande este país, e esta terra que se fez minhota, quando ainda o não era. O que permanece? A terra e o mar ali continuam, nesse abraço que vem de antanho, aqui mais apertado, ali mais lasso, nunca perdido.
E o que sobra do lado do mar? É esse o fresco que propomos, a viagem em fotografia por essa linha de costa por onde, descendo do rio que nos separa de Espanha mas também nos junta à Galiza, foram ganhando forma este país e este modo de viver.
Extinção de frotas, abate de barcos, venda de quotas de pesca, estaleiros navais morrendo de falta de encomendas... A pertença à União Europeia confunde-se com o esmagamento das gentes do mar, ou, num tom mais impessoal, com a perda de um dos pilares da economia nacional. Nenhum outro sector foi tão fustigado pelas regras de Bruxelas como o das pescas.
E, no entanto, é este um país de navegantes, que ao mundo novos mundos deu. Um país de olhos postos no mar e pés mergulhados nas ondas, cuja costa se define assim: 943 quilómetros no território continental, a que se somam 667 no arquipélago dos Açores e, ainda, 250 quilómetros na Madeira, aos quais correspondem 1 683 000 quilómetros quadrados de Zona Económica Exclusiva, ou seja, cerca de 18 vezes a extensão do território nacional. Um país contradito pela política, onde aos maiores bancos de peixe corresponde a agonia das comunidades de pescadores.
De que forma vivem neste tempo as comunidades piscatórias minhotas? E como resiste a construção naval? Como se reinventa, hoje, esse sector tão crucial na afirmação de Viana do Castelo, do Minho, de Portugal? Que pessoas são essas que, embarcadas ou em terra, traçam no turbulento Atlântico os sulcos das suas vidas? Como vivem ou sobrevivem, como festejam, como choram? Que mudanças lhes impõe o tempo, a que tradições se agarram, o que há naquele linha de horizonte que lhes pauta os sonhos? Que Minho é esse, afinal, que se fez ao mar e do mar se fez?
Extenso o retrato, percebe-se, mas extremamente motivador. Faz todo o sentido, hoje, tentar perceber em que estado se encontra essa relação. Saber que gente é essa, pescadores, mareantes, construtores navais.
Ao longo de um ano, proponho-me acompanhar esses homens e essas mulheres, fotografando-os no quotidiano do trabalho, da família, das manifestações culturais, da religiosidade... Faz todo o sentido, hoje, resgatar e honrar essas pessoas que persistem, obstinadas e resistindo a regras que não sufragaram, na forma de viver em que tantas gerações nasceram e cresceram. E a fotografia é um meio essencial para o fazer.
Leonel de Castro
Abril 2017