Cinquenta anos volvidos, a região centro de Portugal continua a debater-se com o fenómeno de despovoamento que a partir da década de 1960 atinge em força o território.
Impulsionado pela pobreza que se fazia sentir durante a ditadura do Estado Novo, o êxodo rural somou-se às já difíceis condições económicas da agricultura de subsistência. Este é um território de micro-propriedade, solos pouco férteis e pouco propícios à mecanização. A sobrevivência das famílias e os rituais sociais estavam intimamente ligados à produção artesanal de azeite, cereais e queijo.
Em 1974, com a abertura do país à democracia, os modos de vida alteraram-se. Os jovens que não foram levados pela emigração para o centro da Europa movimentaram-se em direcção ao litoral industrializado e aí se estabeleceram em busca de melhores oportunidades de emprego, educação e acesso a serviços e infra-estruturas.
No interior do país, resta hoje uma população envelhecida e dispersa. As tradições rurais e o conhecimento popular caminham para o desaparecimento. A inviabilidade económica e o abandono das terras levaram a um crescimento florestal desorganizado que todos os anos potencia incêndios incontroláveis.
Mas ainda há quem continue a sentir estes locais como a sua casa.
Estas são as suas vidas, histórias de «Interior», um projecto em curso sobre os aspectos sociais, económicos e ambientais que afectam as zonas rurais de Portugal.
RICARDO LOPES
Abril 2020