Situado no Alto Noroeste de Portugal, ocupando uma área de cerca de 72 000 ha, o Parque Nacional da Peneda-Gerês corresponde a um território de valor natural e paisagístico ímpar. As serras do Parque foram humanizadas em continuidade, pelo menos desde o Neolítico, e a paisagem completa-se com marcos da milenar ocupação humana, que revelam silenciosos a unidade feita pelo tempo entre o homem e o meio ambiente por ele habitado. No fundo dos vales encaixados entre relevos bruscos subsistem também pequenos povoados, frequentemente erguidos sobre os afloramentos rochosos, de modo a libertar o espaço retalhado para a agricultura e para a pastorícia. São evidências da ocupação humana que se estendem através de muros e socalcos, espigueiros, fojos de lobos, abrigos de pastor ou alminhas, fornecendo marcas indeléveis da comunicação vital entre homem e natureza. Uma relação ora cooperante, ora tensa, como aquela que se estabelece entre pastores, rebanhos e lobos, reflectindo a complexa transacção entre humanidade e animalidade que se estabelece no território. Expressão de uma sociedade agrária em desaparecimento, estes povoados são lugares de silêncio, afundados em vales profundos, encobertos na neblina ou envoltos no verde opressivo da paisagem.
Com efeito, estima-se que em 2011 residissem no Parque apenas cerca de 7000 pessoas, dispersas por 114 aldeias.
São sobretudo mulheres e idosos que se ocupam da agricultura e da pastorícia, e que resistiram, por vontade ou por fatalidade, ao êxodo rural e às profundas transformações que têm marcado o território. Com o envelhecimento da população e a transformação do espaço rural em espaço de consumo para turismo, são eles os últimos vestígios humanos de um modo de habitar e de conceber o mundo em vias de desaparecimento.
Bruno Simões Castanheira
Abril 2016