Para mim, ser fotojornalista é, metaforicamente, como empunhar uma tocha dentro de uma caverna escura. A caverna é o mundo em que vivemos, a tocha é a nossa máquina fotográfica, e os nossos corações são o combustível que mantém essa tocha acesa.
A tocha permite-nos iluminar recantos, penetrar em terrenos difíceis, para, finalmente, depois de observarmos, analisarmos e fixarmos imagens, regressarmos com esses retalhos de realidade e informarmos, contarmos histórias que narrativamente nos levem de um lugar a outro, com um estilo, e ajudem a compreender o que sucede no mundo.
Considero que fazer uma boa foto não é difícil – qualquer pessoa pode fazê-lo – mas contar uma história, isso sim, é todo um desafio.
Por isso, o que me atraiu a ser membro do júri do ESTAÇÃO IMAGEM | MORA foi ter que seleccionar histórias.
E as fotografias de uma boa história fotográfica, como as palavras de um bom texto, devem estar ordenadas de tal forma que nos atraiam, nos façam querer ver a imagem seguinte, e que, ao acabar de apreciar a reportagem, um suspiro indique que acabámos de ver algo especial e que essas imagens nos tocaram o coração.
Estamos em tempos difíceis para o fotojornalismo; todos os dias se anuncia a sua morte, mas como o Guerreiro do Norte de Leonel de Castro, vamos esquivando os golpes para evitar que alguém nos desfira o do knock out.
E durante a deliberação foi reconfortante saber que, por sorte, há vários Guerreiros, e Nelson d’Aires, com a sua reportagem sobre Leandro, é o melhor exemplo de que o fotojornalismo não está morto e que, quando se tem o olfacto jornalístico, a persistência e o talento para contar histórias, isso se vê reflectido nas fotografias.
Do mesmo modo, a bolsa de trabalho, que este ano foi para Paulo Alegria, faz-me sentir que há pessoas que continuam a acreditar que é preciso continuar a multiplicar as tochas, e isso é muito bom sinal.
WALTER ASTRADA
Abril 2011