Foi a minha primeira viagem a Portugal. Tinha sido convidada para ser presidente do júri do prémio de fotojornalismo 2013, ESTAÇÃO IMAGEM | Mora. Quando cheguei a Lisboa, senti de imediato uma enorme empatia com a cidade. Dias depois, o júri reuniu-se em Mora. Após o primeiro passeio pela cidade, fiquei feliz por estar ali, mas, ao aperceber-me do quanto esta pequena comunidade acolhe a fotografia e a extensão do seu apoio aos esforços dos meus anfitriões (os fundadores da Estação Imagem, conduzida por Luís Vasconcelos), apaixonei-me por ela.
Não há dois júris iguais, e cada um à sua maneira distingue-se através do reconhecimento que dá às reportagens e fotógrafos nomeados. Este ano, o grupo diverso mas coeso de jurados concluiu, após dois dias de intenso visionamento, que o fotojornalismo goza de boa saúde em Portugal. A cada ano, há um ou dois temas que lideram em número de candidaturas. Em 2013 foi a crise económica na Europa. São assinaláveis e inovadoras as variadíssimas formas com que este assunto foi documentado: prédios vazios, cuja construção foi interrompida, ecrãs de televisão, através de retratos e da vida familiar.
Atribuímos o prémio ESTAÇÃO IMAGEM | Mora a Bruno Simões Castanheira, cuja excelente e exaustiva reportagem sobre a crise económica na Grécia nos deslumbrou pela sua complexidade e pela soberba execução visual. Cada uma das imagens abordava um aspecto em particular do problema económico e das suas consequências sociais, e cada uma delas perfeita em termos de composição e execução. Trata-se de uma reportagem magnífica, com um conteúdo altamente emotivo.
Durante a nossa estadia em Mora viajámos visualmente pelo mundo. A fotografia levou-nos a diversos países, à América do Sul, a Cuba, ao norte de África, e confrontou-nos com assuntos perturbadores em vários locais. Ainda assim, nem todas as reportagens focaram o lado negro de assuntos internacionais. Ficámos encantados com uma reportagem sobre taxistas indianos que dormiam a sesta e adorámos o futebol africano. Nas reportagens submetidas, as imagens eram a preto e branco e a cores, ou alternavam entre uma e outra. Vimos fotojornalismo clássico mas também vimos trabalhos documentais menos tradicionais e com uma abordagem mais personalizada. E, para nosso grande alívio, a problemática da manipulação digital não representou qualquer dificuldade para o júri.
De um modo geral, ficámos impressionados com o elevado padrão das histórias, especialmente nas categorias de Assuntos Contemporâneos e Vida Quotidiana. Contudo, também houve tristeza. A falência ou os cortes significativos numa série de jornais e revistas implicam que há menos lugares onde os fotógrafos possam publicar as suas reportagens, e/ou que esses profissionais tenham perdido a segurança dos seus empregos e serviços. É uma realidade preocupante. Tudo isto constitui um motivo determinante para que o júri preste homenagem à ESTAÇÃO IMAGEM e à vila de Mora por trabalharem em nome da fotografia em Portugal.
ELIZABETH BIONDI
Abril 2013