Sempre pensei em Portugal como o meu segundo País. A minha segunda língua (embora eu não fale muito bem português….) e o meu possível destino. Regressar a Portugal agora, por ocasião da minha participação no júri do Prémio ESTAÇÃO IMAGEM | Mora, foi como receber um grande presente não esperado e, por isso, ainda mais apreciado. Foi a oportunidade de conhecer uma outra faceta da vida portuguesa: a realidade física de um lugar mágico, como Mora, e as paisagens do Alentejo; e a realidade visível do que acontece, agora, hoje, no universo da fotografia no País.
Os dias em Mora foram doces e intensos. Doces, pela presença de tantos novos amigos (o Luís Vasconcelos e a sua fantástica mulher, a Teresa; o Bruno Portela; e todos os outros da «turma fotográfica») que nos acolheram numa atmosfera amigável e terna. Dias intensos pelo trabalho do júri. Eu e os restantes membros do júri – Paolo Pellegrin, Christopher Morris e Pablo Juliá – passámos os dias a olhar para as muitas reportagens enviadas, tentando descobrir o fio da crónica recente de uma terra e de uma região que atravessa actualmente uma situação, tal como a Europa, de grande dificuldade. O júri teve também a oportunidade de descobrir (por vezes, de reconhecer, e, outras, de adivinhar), novas capacidades de contar histórias em fotografias.
Na realidade, isto é o significado de uma reportagem: organizar/reunir assuntos num conjunto visível e com sentido, que dá a conhecer pessoas e situações. E que, também, possa emocionar. A prática da reportagem não é simples e muda continuamente de estilo, seguindo as novidades da técnica e a presença de novos instrumentos de comunicação. É sempre necessário encontrar uma nova linguagem e um ritmo diferentes para contar histórias, por vezes antigas, com novas palavras. Hoje, mais do que nunca, cada fotógrafo tem que assumir-se como um verdadeiro story-teller.
Todos nós, membros do júri, ficámos encantados com Cegueira recente, do fotojornalista Mário Cruz; um trabalho que aborda a vida no Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos. A capacidade do autor para narrar a história, como se se tratasse de um drama pessoal, torna-se uma forma de assistência mútua, ou, até, de solidariedade, transformando esta série de imagens numa sinfonia visível, delicada e penetrante.
A Bolsa ESTAÇÃO IMAGEM | Mora foi entregue a Hermano Noronha, que desenvolverá o seu projeto fotográfico Presente, documentando o estado actual da memória da Guerra Colonial, no concelho de Mora. Desta forma, o Júri premiou um bravo fotógrafo e um projecto de inegável relevo, sublinhando, também, que uma história que merece ser contada exige sempre um trabalho continuo, de sensibilidade profunda e de memória actualizada.
ALESSANDRA MAURO
Abril 2014