PRÉMIO ESTAÇÃO IMAGEM
2018 COIMBRA
PROGRAMA
\17 ABR—30 MAI
EXPOSIÇÕES
CONFERÊNCIA
WORKSHOPS
SLIDESHOWS FOTOJORNALISMO
INTERNACIONAL
DOCUMENTÁRIOS
ENTREGA DOS PRÉMIOS
ESTAÇÃO IMAGEM 2018
MERCADO LIVRO FOTOGRAFIA
SALA DA CIDADE
CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA
Ter a sáb 13h00 — 18h00
Encerra dom, seg e fer
UMA VIDA SELVAGEM Michael Nichols é uma retrospectiva criada pela Visa pour l’Image 2017 e apoiada pela CANON. A exposição baseia-se nos cinco anos de colaboração de Melissa Harris com Nichols – conversas sobre a sua vida e imagens, e as histórias por trás das imagens – culminando num livro, UMA VIDA SELVAGEM: Uma biografia visual do fotógrafo Michael Nichols, publicado pela Aperture, em Junho de 2017.
Todas as fotografias presentes nesta exposição: Photos Michael Nichols /
National Geographic Creative
17 ABR—30 MAI
Michael Nichols
UMA VIDA SELVAGEM
UMA VIDA SELVAGEM
Exposição produzida com O apoio da Canon e Visa Pour l’Image
O fotógrafo Michael Nichols (n. 1952) passou grande parte da sua vida a revelar e a dar visibilidade a alguns dos animais e das paisagens mais selvagens do mundo natural. Enquanto fotógrafo galardoado pela National Geographic, passou por vezes meses consecutivos a documentar em proximidade com animais individualmente (sobretudo grandes felinos, primatas e elefantes) bem como as suas famílias, comportamentos e habitats; sempre em localizações extraordinárias, desde a Bacia do Congo, ao Serengueti, ao Oeste Americano. Nichols foi membro da Magnum Photos durante trinta anos, antes de ser tornar fotógrafo permanente da revista da National Geographic em 1996. Desde aí, completou vinte e cinco histórias para aquela publicação e, em 2008, foi nomeado para o lugar de Editor-at-Large. Em 2007, fundou o LOOK3 Festival of the Photograph em Charlottesville, Virginia. O trabalho final de Nichols para a National Geographic foi desenvolvido no Parque Nacional de Yellowstone e publicado na Primavera de 2016 como parte de um tema único dedicado ao Grande Ecossistema de Yellowstone. Antes disso, no Verão de 2013, a revista publicou o seu ensaio fotográfico sobre o leão do Serengueti, com ênfase particular em dois grupos e também num macho de juba escura de nome C-Boy. Nichols reside actualmente em Sugar Hollow, na Virginia, com Reba Peck, sua mulher e colega há já quarenta anos.
EDIFÍCIO CHIADO
MUSEU MUNICIPAL
Ter a sex
10H00 — 18H00
sáb e dom
10H00 — 13H00 / 14h00 — 18h00
Encerra seg e fer
17 ABR—30 MAI
ISADORA KOSOFSKY
OS TRÊS
OS TRÊS
Exposição produzida com O apoio da Fundação Joana Vasconcelos
Jeanie, 81 anos, Will, com 84, e Adina, com 90 anos, vivem uma relação. “O Triângulo Amoroso dos Três Idosos” é um documentário fotográfico, feito ao longo do tempo, que observa a vida de três pessoas na terceira idade envoltos num conflito amoroso. Vêem a sua ligação como um escudo que as protege da solidão do envelhecimento. Embora a relação de Jeanie, Will e Adina tenha começado num centro de dia em Los Angeles, Califórnia, o mundo exterior é sentido como a sua casa. Para eles, o centro de dia faz pensar na solidão. Tentando encontrar conforto dentro de si mesmos, procuram uma fuga entre os três. Ao descrever o seu laço, Will diz-nos: “Vivemos fora da lei, mas não acima da lei. Não somos uns marginais.”
Através desta relação, Jean, Will e Adina desafiam as normas socioculturais projectadas sobre os mais velhos. Jeanie, reflectindo sobre a sua vida, confia-nos que “Não desejo assumir todas as roupagens da maturidade.” Jeanie procura empoderamento e clarifica: “Quero ser livre.” Para estas pessoas, envelhecer é, paradoxalmente, uma forma de perda mas também de libertação. Tentando encontrar consolo neles mesmos, procurando uma fuga entre eles. Quando faço parte da vida de Jeanie, Will e Adina, sinto que estou a participar numa actividade clandestina, nalguma coisa diferente. A cada dia procurámos uma nova “aventura”, um objectivo. Senti o conforto de fazer parte do grupo. Mas a excitação revelou tristeza. Também eu experimentei o distanciamento que podemos sentir enquanto parte de um grupo, ou de um par. Senti a dor que se instalara debaixo da superfície do seu romantismo.
Conheci Jeanie, Will e Adina num lar em East Hollywood onde eu estava a documentar uma senhora que vivia no 4.o andar. Uma noite, vi Jeanie, Will e Adina a andar em direcção ao portão; Will tinha o braço à volta de Adina e Jeanie caminhava atrás deles. Percebi que o momento estaria relacionado com a separação de Jeanie. Compreendi e identifiquei-me com o sentir daquela impossibilidade de equilíbrio entre os três. Tal como Jeanie costumava dizer: “Partilhar o Will é um mal-estar constante. A relação entre um homem e uma mulher é algo privado. É um casal. Não é um trio.” IK
IK
GALERIA PEDRO OLAYO (FILHO)
CONVENTO SÃO FRANCISCO
TODOS OS DIAS
15H00 — 20H00
17 ABR—27 MAI
MARCO LONGARI
ATÉ À MORTE
ATÉ À MORTE
No meio da auto-estrada cheia de gente, o homem ao meu lado repuxa as roupas do corpo todas molhadas. Respira com dificuldade através do pano que lhe cobre a boca.
Centenas de outros, homens e mulheres, ocupavam o meio da estrada entre as duas faixas. 31 de Agosto de 2016. A Comissão Eleitoral do Gabão acaba de anunciar a reeleição de Ali Bongo Ondimba: o seu segundo mandato após a presidência do país pelo seu pai entre 1967 e 2009. A fila de manifestantes em marcha até à sede da comissão eleitoral é bloqueada a meio do caminho por um grande contingente de polícias de intervenção. Agora estão frente a frente: o gás lacrimogéneo satura o ar, os jactos dos canhões de água ensopam todas as vestimentas. Quando os estouros do gás lacrimogéneo e das balas de borracha começaram a cercar-nos, de repente, o homem move-se; voltando-se e levantando a voz sobre a multidão, diz: “On y va. On va y arriver. Au moins qu’on meurt, on va y arriver.” [“Vamos. Vamos conseguir chegar lá. A não ser que se morra, vamos conseguir.”]
Manter o sentido do comprometimento político no meio de todo este caos não é tarefa fácil. De qualquer modo, como seria possível? O nível de violência ofusca o discernimento. A reacção explosiva, inesperada e total, de milhares de pessoas convergindo de uma só vez, meros estranhos entre si momentos antes, depressa transformada num rio que transborda: movem-se em uníssono ligados por um mesmo destino. É, deveras, uma visão poderosa. O que é que acontece na ausência de uma narrativa política coerente nos lugares onde esta força é reprimida ou desconhecida, misturada com identidades tribais e representada através de actos violentos em vez de bandeiras e slogans?
O activismo político, o seu sentido e necessidade, desenvolve-se com a sua prática: ensaios contínuos capazes de afinar a sua dinâmica, a sua dialéctica.
No meio de outra multidão de milhares de pessoas, debaixo de um céu pesado e encoberto, sou subitamente apanhado por um cheiro característico, um forte cheiro a peixe. Estou em Nairobi, num lugar que tem marcado a história política deste país: o Parque Uhuru – o nome do filho do fundador do Quénia, Mzee Jomo Kenyatta, o primeiro presidente depois da independência. Uhuru Kenyatta é o actual presidente, à espera de ser reeleito. O seu oponente político, Raila Odinga, filho do opositor político do pai de Uhuru, está neste mesmo lugar em celebração – no espaço que carrega o nome do opositor, no final de uma campanha eleitoral agitada pela violência constante. Odinga saiu da corrida eleitoral apelando aos apoiantes para que boicotassem a votação. Os termos do discurso são duros e a campanha é baseada em afiliações tribais. O peixe. Sinto-me a alucinar: um homem traz um cacusso à volta do pescoço. No meio de Uhuru Park, Nairobi.
Os Luo, a tribo à qual Raila Odinga pertence, são pescadores originários das margens do lago Victória. Aquele peixe é o número de recenseamento deste homem.
As lutas políticas em África são travadas em colunas específicas dos jornais locais, em estações de rádio muitas vezes sedeadas na Europa para escapar a proibições locais. O activismo é exercido em círculos restritos, raramente põe a cabeça de fora e, quando o faz, é muitas vezes imediatamente reprimido.
A África do Sul é uma excepção: uma sociedade levada ao limite na época do apartheid, criou uma identidade política que conseguiu reunir a massa da população para lá da divisão racial. Esta distinta característica política, estruturada e educada, deve muito do seu sucesso a grandes homens, a um corpo de literatura e a uma coreografia bem ensaiada. A nação de Mandela celebra todos os dias o seu lugar político. Os protestos, as lutas, são pontuados por uma banda sonora capaz de catalisar milhares de pessoas: tornam-se num coro, um coro político muito definido e poderoso. A violência é um instrumento: um elemento fulcral na sua estratégia de comunicação.
Noutros contextos, por contraste, a violência torna-se a voz de uma expressão política que de outro modo estaria ausente. Sem uma ocorrência diária, sem dissolução e sem um fervilhar contínuo, explodiria de uma só vez. Ardendo rapidamente, não se consegue conter – e aqueles que estão no poder irão deparar-se com o povo nas ruas, forçando sem tréguas, exigindo, desejando. Apenas por uns dias ou por um tempo muito curto. Por vezes, prolonga-se por horas. Todos sabem que aqueles homens e mulheres precisam de ir trabalhar para sustentar as suas famílias. O activismo político é um luxo que muito poucos conseguem suportar.
Os dois turistas britânicos, de meia idade e peles cor-de-rosa de escaldão, mantinham-se na esquina da rua a ver os soldados gambianos a saltar aos pares de um camião militar, tomando posição a cada duzentos metros na avenida principal, pouco acima de uma zona mais cuidada onde estão vários hostels. Dois dias antes, a Gâmbia tinha ido a votos para reeleger Yahya Jammeh, um ditador excêntrico e brutal que comandou este pequeno país da África Ocidental ao longo de 22 anos. Por entre o tom tímido do protesto político antes da votação, os activistas quase que sussurravam os slogans: caras de precaução revelavam uma afiliação política sem futuro à vista. Quando, depois de um suspense de dois dias, o governo cortou o acesso à internet e pôs os militares nas ruas, os turistas do Thomas Cook “£750 tudo incluído” acordaram com os tanques posicionados nos principais cruzamentos ficaram a pensar se valeria a pena passar mais uns dois dias no resort fechados e sob o olhar atento de um soldado armado. Adama Barrow, o barão do imobiliário tornado líder da oposição, viu-se eleito presidente do país no final daquele dia agitado: Jammeh perdera as eleições e aceitara a derrota e saída do poder num memorável discurso transmitido à noite pela televisão. Os mesmos activistas que tinham desfilado timidamente sussurrando os seus slogans nas ruas de Banjul viram-se de repente do lado dos victoriosos – a alegria e o sentimento de alívio explodiram com a mesma timidez composta com que antes expressavam a sua revolta contra o ditador.
A força da coesão produz a mudança. Por vezes, súbita e de grande impacto, como o golpe de Estado no Zimbabué ou esta história na Gâmbia. Outras vezes, mudanças subtis, quase imperceptíveis, como no Quénia.
Se existe um ponto comum no processo de transformação da identidade política em África, esse ponto parece ser a certeza colectivamente partilhada de que o tempo dos regimes monolíticos já devia ter terminado. Porque, nos momentos mais difíceis, a coesão política no continente africano emerge sob a forma de uma vontade indómita de transformação: uma vontade feita de necessidade, de determinação, e de um activismo confiante e incansável.
O homem ao meu lado junto à barricada a arder, em Nairobi, limpa a cinza da cara. Dezenas de outros, todos homens, ficaram até ao final da noite depois do anúncio da reeleição de Uhutu Kenyatta na segunda volta das eleições presidenciais do Quénia. Estamos a 30 de Outubro de 2017. Das varandas do edifício de cinco andares ao longo dos dois lados da rua, até ao centro do bairro de lata de Mathare, começam a erguer-se vozes acima do silêncio. Umas insultam a polícia de intervenção, outras gritam alto o nome do líder da oposição, Odinga. Em partes distintas do edifício consegue-se ouvir pessoas a tossir por causa do gás lacrimogéneo que paira no ar. À medida que o tumulto vai acalmando, o homem sai dali em direcção à entrada de um dos prédios. Quando me afasto para o deixar passar, ele levanta a cabeça e diz-me: “Vou vê-lo aqui amanhã?”
“Vão comecar outra vez amanhã?”
“Claro que vamos, Mpaka mwisho”, diz-me em Swahili. “Até ao fim. Até à morte.”
ML Joanesburgo, Fevereiro 2018
GALERIA PINHO DINIS
CASA MUNICIPAL DA CULTURA
Seg a sex
09H00 — 19H30
sáb
11H00 — 13H00 / 14H00 — 19H00
Encerra dom e fer
17 ABR—30 MAI
AMY TOENSING
VIÚVAS
VIÚVAS
projecto financiado pelo Pulitzer Center e pela National Geographic Magazine, com apoio do Visa Pour l’Image
Em muitas regiões do mundo, a viuvez é vista como a morte social da mulher levando à sua marginalização e à dos seus filhos. Nestas culturas, a mulher é usualmente definida pela sua relação com um homem: primeiro enquanto filha e, mais tarde, como esposa. Quando o marido morre, ela torna-se um elemento à margem da sociedade. Quase sempre sem estudos e sem forma de se sustentar financeiramente, a mulher torna-se um alvo fácil de abuso. Mesmo que possa ser herdeira de terras ou dinheiro, normalmente desconhece os seus direitos, o que leva a família do marido a afastá-la facilmente ficando-lhe com os bens que eram seus por direito. Por vezes, torna-se ela mesma um objecto de “herança” sendo passada como esposa a um irmão do marido falecido.
Na Índia, o estigma associado às viúvas está fortemente enraizado no hinduísmo. Alguns hindus acreditam que quando a mulher é pura e fiel, tal protegerá o marido da morte – ostensivamente, ela é vista como culpada pela morte do marido. Em casos extremos, a viúva comete suícidio lançando-se à pira de cremação do marido. A prática – ou Sati, em hindu – foi abolida legalmente no início do séc. XIX. Porém, existem ainda algumas comunidades que acreditam no luto como o único destino permitido à viúva para o resto da sua vida. Hoje em dia, dos 40 milhões de viúvas que existirão por toda a Índia, vários milhares procuram refúgio em cidades sagradas como Vrindavan ou Varanasi, onde cumprem uma pena perpétua: com o cabelo cortado, vestidas de branco, e celibatárias para sempre. No entanto, as novas gerações estão a rejeitar estas expectativas provocando assim uma mudança profunda. Um ashram organizou uma festa aquando das festividades Holi e, segundo o relato do The Times of India: “Dançavam e soltavam risos entre as lágrimas. Lançavam flores umas às outras enquanto brincavam com gulal. Por entre uma parafernália de cores, as viúvas de Vrindavan celebraram o Holi desafiando a tradição que as obriga a ficar longe de qualquer tipo de festa.”
AT
CÍRCULO DAS ARTES PLÁSTICAS DE COIMBRA — ESPAÇO SEREIA
Ter a sáb
14H00 — 18H00
Encerra DOM, seg e fer
17 ABR—30 MAI
PATRICK BAZ
CRISTÃOS DO LÍBANO
CRISTÃOS DO LÍBANO
Exposição produzida com O apoio da Fundação Joana Vasconcelos
Depois de ter posto um fim à minha carreira como fotógrafo de guerra à volta do mundo, decidi voltar às minhas raízes, ao Líbano, para recarregar baterias.
Quando regressei a casa, encontrei toda a região em tumulto por causa do massacre de cristãos e de outras minorias perpetrado por grupos islâmicos.
Ao longo de várias conversas, era constantemente confrontado com as mesmas perguntas; perguntas que pareciam inquietar os membros da comunidade cristã: “Será que ficamos aqui? Será que eles nos expulsam? Irão perseguir-nos?” Olhavam para mim como se eu, por ter sido correspondente de guerra e ter estado em várias zonas de conflito, tivesse resposta.
Surpreendeu-me também a crescente visibilidade da identidade da comunidade e a abundância de símbolos ostensivos.
Cruzes e estátuas de santos do Levante eram erguidas no topo das colinas marcando o território, as procissões religiosas desfilavam nos espaços públicos, imagens sagradas e crucifixos adornavam as entradas dos edifícios, carros e estradas de montanha. Foi aí que percebi: não havia um testemunho visual dos cristãos do Líbano no século XXI. Nenhuma abordagem contemporânea que pudesse ajudar a definir, verdadeiramente, a situação da comunidade actualmente. Quem são os cristãos do Líbano? O que fazem? Como vivem? Estas e muitas outras perguntas intrigavam-me.
E assim parti numa viagem à descoberta de uma comunidade à qual pertenço, teoricamente, de acordo com o meu certificado de estado civil; a mesma comunidade onde eu cresci, e as gentes com as quais estive lado a lado a minha vida inteira. Todas as manhãs, dediquei-me a explorar um aspecto do modo de vida cristão no Líbano de hoje. Descobri histórias, devoções, lugares e pessoas. Captando a imensidade do que testemunhava. Nunca tive intenção de enveredar por uma abordagem histórica ou temática sobre o assunto; em vez disso, tentei uma abordagem visual e humana, sem julgamentos de valor. No fundo, captei apenas o que vi.
Voltei desta jornada com convicções, afirmações, surpresas e possibilidades. Convido-os a todos a partilhá-las comigo.
PB
CÍRCULO DAS ARTES PLÁSTICAS
DE COIMBRA — ESPAÇO SEREIA
Ter a sáb
14H00 — 18H00
Encerra DOM, seg e fer
17 ABR—30 MAI
FERHAT BOUDA
BERBERES EM MARROCOS
UMA CULTURA DE RESISTÊNCIA
BERBERES EM MARROCOS
UMA CULTURA DE RESISTÊNCIA
“Uma cultura não é apenas um legado que se herda,
é também uma visão que se aceita.”
Mouloud Mammeri
Escritor cabila, antropólogo e linguista
Os berberes, ou povo Amazigh (i. e. povo livre), são os habitantes mais antigos do Norte de África. Ao longo de milhares de anos, têm vivido numa terra vasta desde a costa atlântica de Marrocos ao Oásis de Siwa no Egipto. Têm a sua própria língua e tradições culturais, mas a sua identidade está hoje ameaçada. Sem aspirações a serem uma nação, alguns berberes vivem como nómadas, outros como sedentários; há também muçulmanos, cristãos e judeus. Alguns líderes políticos do Norte de África suspeitam que sejam hereges e tem-nos oprimido, devastando comunidades, assimilando-os e por vezes perseguindo-os. Cada dia é uma luta pela manutenção da sua identidade.
A maioria dos berberes estão em Marrocos, por isso fui até lá: até à aldeia de Tinfgam no Alto Atlas, quase 2000 metros acima do mar; uma jornada que acabou a pé, durante três horas numa estrada empoeirada. As casas são feitas de pedra e barro ou então são grutas nas montanhas ou em encostas íngremes. Os aldeões são fortes e calmos. Mas estas comunidades são ignoradas pelo governo que, intencionalmente, as marginaliza. Não há nenhum posto de saúde ou escola; nenhuma infra-estrutura de educação ou de saúde, nem electricidade. Mas os berberes são almas independentes – com a sua prática e extenso conhecimento do ambiente natural, são auto-suficientes, cultivando a terra ou criando cabras. O seu estilo de vida está intimamente ligado à terra onde vivem, e cada dia segue a ordem ditada pela natureza. Pode não haver segurança material, mas a atmosfera da aldeia é acolhedora, como uma grande família. Aqui as mulheres têm um papel central, pois os homens normalmente vão para longe em busca de trabalho noutros ofícios. Como resultado, as mulheres tornam-se a memória viva do povo Amazigh, da sua tradição e cultura.
Visitei também a aldeia de Timetda, na província de Tinghir, onde me deparei com a mesma filosofia de vida. As duas aldeias são muito parecidas na forma como são geridas e nos princípios. Timetda é de acesso mais fácil, perto da estrada; algumas casas têm electricidade, mas, também aqui, os aldeões sentem-se ignorados e ostracizados pelas autoridades locais. Tal como a comunidade em Tinfgam, a população de Timetda sente-se profundamente enraizada nas suas tradições e também orgulhosos e determinados em afirmar a sua identidade com a sua língua e a sua cultura. Este é, claramente, um acto de desafio, resistindo às tentativas de assimilação e de votar a sua identidade ao esquecimento.
A esperança e o futuro deste povo depende inteiramente da passagem dos seus valores e cultura para as gerações futuras, tal como praticados e guardados ao longo de milhares de anos. A terra tem uma importância crucial: tem de ser defendida da constante perturbação que a ameaça há séculos. Uma terra generosa, uma terra que acolhe o povo que ali vive num espírito de harmonia. Este meu trabalho documental sobre o povo berbere, que vive na sua própria terra, pode ser visto num contexto de resistência e de uma cultura tradicional que permanece firme.
FB
é também uma visão que se aceita.”
Mouloud Mammeri
Escritor cabila, antropólogo e linguista
CÍRCULO DAS ARTES PLÁSTICAS
DE COIMBRA — ESPAÇO SEREIA
Ter a sáb
14H00 — 18H00
Encerra DOM, seg e fer
17 ABR—30 MAI
NIELS ACKERMANN
ANJO BRANCO
AS CRIANÇAS DE CHERNOBYL JÁ CRESCERAM
ANJO BRANCO
AS CRIANÇAS DE CHERNOBYL JÁ CRESCERAM
“Aqui morrem mais pessoas por causa das drogas e do álcool do que da radioactividade.” Este foi o comentário de Kiril junto à sepultura do seu melhor amigo, falecido depois de ter caído de uma varanda numa noite de bebedeira.
Em Abril de 2016, o mundo assinalava o 30.o aniversário sobre o desastre de Chernobyl. Em vez de me focar no impacto, escolhi olhar para o futuro – passei três anos captando a mais nova geração da mais nova cidade da Ucrânia, Slavutych, uma cidade construída em resposta ao desastre.
A reportagem segue Yulia, uma adolescente que se foi tornando uma jovem adulta à frente da minha máquina fotográfica. Ao longo de meses, a sua vida de festas, parceiros de uma só noite e de bebida, foi deixada para trás quando arranjou um emprego, responsabilidades e se casou. Com o consentimento de Yulia e dos seus amigos, segui-os ao longo de um período crucial, no qual os adolescentes decidem o que fazer das suas vidas, escolhem parceiros e amigos, e decidem o que querem ser.
Foi, pois, um período de transformação não só para eles mas também para o país, entretanto apanhado num conflito violento com o país vizinho, a Rússia. A juventude de Slavutych e, no fundo, a de toda a Ucrânia, terá de emendar os erros dos pais e de construir um futuro de paz e de prosperidade.
Slavutych, uma cidade no meio da floresta a apenas 50 quilómetros da Central Nuclear de Chernobyl, foi planeada para ser uma cidade bela e demonstrativa da grandeza da União Soviética. O último reactor nuclear ainda em funcionamento foi fechado no ano 2000. A partir daí, a economia da cidade dependeu da construção da nova estrutura de contenção e de várias subvenções. Agora, terminado o “sarcófago” e com os trabalhadores no desemprego, o que irá garantir o futuro desta cidade e abrir oportunidades à geração mais jovem?
NA
ANTIGA PRISÃO ACADÉMICA
DA BIBLIOTECA JOANINA
Todos os dias
10H00 — 18H00
17 ABR—30 MAI
MÁRIO CRUZ
TALIBES
TALIBES
REPORTAGEM vencedora do Prémio Estação Imagem 2016 Viana do Castelo
Talibe é um termo árabe para discípulo. O que deveria ser uma escola, é muitas vezes um local de tortura. O que deveria ser um sistema de educação é, frequentemente, um sistema de exploração. No Senegal, existem centenas de escolas corânicas (daaras) onde se encontram aprisionados rapazes, dos 5 aos 15 anos, que são obrigados a mendigar nas ruas oito horas por dia para manter o seu marabout (professor). Estas falsas daaras estão constantemente superlotadas. Malária, doenças da pele, problemas pulmonares e parasitas estomacais são comuns. Milhares de talibes sobrevivem durante anos nestas condições, enquanto outros fogem para as ruas, onde ficam vulneráveis a novos abusos. O número de talibes está a aumentar e, de acordo com a Human Rights Watch, mais de 50 mil rapazes estão sujeitos à mendicidade forçada, registando 30 mil talibes só na região de Dacar. O tráfico de crianças desempenha um papel crucial nos números de hoje. A maioria dos talibes são senegaleses mas o número de crianças traficadas de países vizinhos, como é o caso da Guiné-Bissau, aumentou. Os abusos físicos são conhecidos pela sociedade, mas não são vistos porque permanecem no interior das daaras, escondidas em locais proibidos. Os guardiões estão conscientes dos crimes que cometem e continuam este sistema de exploração na escuridão, sem medo de que a lei seja aplicada contra eles.
MC
ALA DO JARDIM
MUSEU DA CIÊNCIA
Todos os dias
09H00—13H00 / 14H00—19H00
17 ABR—30 MAI
João Ferreira
ARQUIPÉLAGO
ARQUIPÉLAGO
REPORTAGEM vencedora na categoria Vida Quotidiana, Prémio Estação Imagem 2017 Viana do Castelo
Numa era cujo ambiente social se caracteriza pela sua enorme mutabilidade, Arquipélago mostra-nos pessoas autênticas
em contextos reais, numa África insular carente de recursos naturais. O ensaio fotográfico de João Ferreira (Leiria, 1976) é um mergulho em duas ilhas de um arquipélago que tem nome de país: Cabo Verde. Realizado entre a Primavera de 2015 e o Inverno de 2017, nas ilhas de São Vicente e Santo Antão, este trabalho apresenta-nos uma visão despida de filtros e ilusões, que demonstra a força da fotografia na documentação de uma realidade de um país jovem, a comemorar quatro décadas de independência. Arquipélago percorre os trilhos de um território com uma identidade única, mistura de amor pela música, pelo futebol e pelo mar, com um olhar poético sobre a humanidade.
PROGRAMA
\
17 ABR—30 MAI
17 ABR—30 MAI
AFP;
LENSCULTURE;
Maysun/EPA; INTERNAZIONALE:
Giulio Piscitelli,
Franscesco Giusti,
Rocco Rorandelli,
Francesco Zizola
17 ABR e 28 ABR
LENSCULTURE;
Maysun/EPA; INTERNAZIONALE:
Giulio Piscitelli,
Franscesco Giusti,
Rocco Rorandelli,
Francesco Zizola
17 ABR e 28 ABR
NOOR:
Kadir van Lohuizen,
Robin Hammond,
Alixandra Fazzina;
LENSCULTURE;
REUTERS;
FÒCAS INDIA:
Prarthna Singh,
Magdalena Walczak,
Deepti Asthana,
Indranil Banerjee,
Sutirtha Chatterjee,
Indrajit Khambe,
Jayanta Roy,
Louise Kennedy,
Kannagi Khanna;
Maysun;
Angela Ponce Romero;
AFP:
Amer Almohibany,
Abdulmonam Eassa,
Aaref Watad,
Hasan Mohamed,
Hamza Al-Ajweh
18 ABR e 5 MAI
Kadir van Lohuizen,
Robin Hammond,
Alixandra Fazzina;
LENSCULTURE;
REUTERS;
FÒCAS INDIA:
Prarthna Singh,
Magdalena Walczak,
Deepti Asthana,
Indranil Banerjee,
Sutirtha Chatterjee,
Indrajit Khambe,
Jayanta Roy,
Louise Kennedy,
Kannagi Khanna;
Maysun;
Angela Ponce Romero;
AFP:
Amer Almohibany,
Abdulmonam Eassa,
Aaref Watad,
Hasan Mohamed,
Hamza Al-Ajweh
18 ABR e 5 MAI
NOOR:
Pep Bonet,
Sebastian Liste,
Andrea Bruce,
Jon Lowenstein;
AFP;
LENSCULTURE;
Silvia Landi;
Niels Ackerman;
GETTY IMAGES:
Paula Bronstein,
Alejandro Cegarra,
Antonio Faccilongo,
Barbara Peacock,
Alessandro Penso
19 ABR e 12 MAI
Pep Bonet,
Sebastian Liste,
Andrea Bruce,
Jon Lowenstein;
AFP;
LENSCULTURE;
Silvia Landi;
Niels Ackerman;
GETTY IMAGES:
Paula Bronstein,
Alejandro Cegarra,
Antonio Faccilongo,
Barbara Peacock,
Alessandro Penso
19 ABR e 12 MAI
NOOR:
Benedicte Kurzen,
Yuri Kozyrev,
Nina Berman;
Rodrigo Abd/AP;
AFP: Ahmad al-Rubaye,
Aris Messinis,
Brendan Smialowski,
Noel Celis,
Carl Souza,
Marco Longari,
Yasuyoshi Chiba,
Ronaldo Schemidt,
Juan Barreto,
Ricardo Aduengo,
Josh Edelson,
Fred Dufour,
John Wessels,
Andrej Isakovic
20 ABR e 19 MAI
Benedicte Kurzen,
Yuri Kozyrev,
Nina Berman;
Rodrigo Abd/AP;
AFP: Ahmad al-Rubaye,
Aris Messinis,
Brendan Smialowski,
Noel Celis,
Carl Souza,
Marco Longari,
Yasuyoshi Chiba,
Ronaldo Schemidt,
Juan Barreto,
Ricardo Aduengo,
Josh Edelson,
Fred Dufour,
John Wessels,
Andrej Isakovic
20 ABR e 19 MAI
USA Today;
NOOR:
Francesco Zizola,
Stanley Green,
Tanya Habjouqa
EPA-EFE:
Miguel Gutiérrez,
Cristián Hernández,
Mohammed Badra;
Paula Bronstein;
Sara Naomi Lewcowicz
21 ABR e 26 MAI
NOOR:
Francesco Zizola,
Stanley Green,
Tanya Habjouqa
EPA-EFE:
Miguel Gutiérrez,
Cristián Hernández,
Mohammed Badra;
Paula Bronstein;
Sara Naomi Lewcowicz
21 ABR e 26 MAI
ADVERTÊNCIA
Algumas imagens podem ferir
a sensibilidade
dos espectadores
Algumas imagens podem ferir
a sensibilidade
dos espectadores
Doclisboa
Martírio
Vincent Carelli /
2017 / Brasil / 162’
A grande marcha de reconquista dos territórios sagrados dos guarani kaiowá, desde o nascimento do movimento na década de 80 e a insurgência pacífica e obstinada dos despossuídos frente ao poderoso aparato do agronegócio.
2017 / Brasil / 162’
Vencedor Prémio Fundação INATEL para Melhor Filme de Temática Associada a Práticas e Tradições Culturais e ao Património Imaterial da Humanidade
17 ABR
Midas Filmes
I AM NOT YOUR NEGRO / EU NÃO SOU O TEU NEGRO
RAOUL PECK / 2016 / 89’
Em 1979, James Baldwin escreveu ao seu editor dizendo que o seu próximo projecto, “Remember This House”, seria um livro revolucionário sobre as vidas e os assassinatos de três dos seus amigos mais próximos, H Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King, Jr.
Doclisboa
Why is Difficult to make Films in Kurdistan
Ebrû Avci / 2017 / Turquia / 26’
Uma rapariga curda procura convencer a sua família tradicional a deixá-la estudar cinema enquanto filma a vida quotidiana deles.
Vencedor Prémio Sociedade Portuguesa de Autores do Júri da Competição Internacional
I don’t belong here
Paulo Abreu / 2017 / Portugal / 75’
I don’t belong here acompanha o processo criativo da peça com o mesmo nome, concebida a partir das experiências pessoais dos próprios intérpretes que, oriundos dos EUA e do Canadá, são inesperadamente deportados para os Açores.
Vencedor Prémio Escolas / Prémio ETIC para Melhor Filme da Competição Portuguesa
19 ABR
Midas Filmes
PAULA REGO, HISTÓRIAS & SEGREDOS
NICK WILLING / 2016 / REINO UNIDO / 90’
Conhecida por ser muito ciosa da sua privacidade, Paula Rego revela-se pela primeira vez neste filme, surpreendendo o seu filho, o cineasta Nick Willing, com histórias e segredos da sua vida excepcional, uma vida de luta contra o fascismo, um mundo da arte misógino e a depressão.
Edição
fotográfica
A ligação fotográfica
fundamental
entre Fotógrafo
e Editor
POR Maria Mann
Directora de relações internacionais da EPA
Com Patrick Baz / AFP
18 ABR
e Ferhat Bouda / VU’
19 ABR
Reportagem
fotográfica
FOTOGRAFIA fotográfica
E FOTOJORNALISMO
POR HorAcio Villalobos
Fotojornalista
da agência Getty
da agência Getty
Com Francisco Leong / AFP
e Paulo Novais / Lusa
20 ABR
e Paulo Novais / Lusa
18—21 Abr
VISITAS ÀS EXPOSIÇÕES
Visita à exposição
de Michael Nichols
de Michael Nichols
UMA VIDA SELVAGEM
SALA DA CIDADE
CÂMARA MUNICIPAL
DE COIMBRA
18 ABR 18H00
CÂMARA MUNICIPAL
DE COIMBRA
VISITA COMENTADA
POR PATRICK BAZ
À SUA EXPOSIÇÃO
POR PATRICK BAZ
À SUA EXPOSIÇÃO
CRISTÃOS DO LÍBANO
CÍRCULO DE ARTES
PLÁSTICAS DE COIMBRA
ESPAÇO SEREIA
19 ABR 18H00
PLÁSTICAS DE COIMBRA
ESPAÇO SEREIA
Lançamento
do livro
e visita À exposição
de Isadora
Kosofsky
do livro
e visita À exposição
de Isadora
Kosofsky
OS TRÊS
EDIFÍCIO CHIADO
MUSEU MUNICIPAL
20 ABR 18H00
MUSEU MUNICIPAL
Apoio da Fundação
Joana Vasconcelos
Joana Vasconcelos
VISITA COMENTADA
POR MARCO LONGARI
À SUA EXPOSIÇÃO
POR MARCO LONGARI
À SUA EXPOSIÇÃO
ATÉ À MORTE
GALERIA PEDRO
OLAYO (FILHO)
CONVENTO
SÃO FRANCISCO
21 ABR 13H00
OLAYO (FILHO)
CONVENTO
SÃO FRANCISCO
VISITA COMENTADA
POR FERHAT BOUDA
À SUA EXPOSIÇÃO
POR FERHAT BOUDA
À SUA EXPOSIÇÃO
OS BERBERES
EM MARROCOS
EM MARROCOS
CÍRCULO DE ARTES
PLÁSTICAS
DE COIMBRA
ESPAÇO SEREIA
21 ABR 17H00
PLÁSTICAS
DE COIMBRA
ESPAÇO SEREIA
21 Abr
ENTREGA DOS PRÉMIOS
ESTAÇÃO IMAGEM
2018 COIMBRA CONFERÊNCIA
DO JÚRI
ANTIGA IGREJA
DO CONVENTO
SÃO FRANCISCO 11H00
24 ABR—
30 MAI
PRÉMIOS ESTAÇÃO 30 MAI
IMAGEM 2010—2017 AUDITÓRIO CAPC
ESPAÇO SEREIA
Ter a sEX
14H00—18H00
Encerra DOM,
seg e fer
Projecção com
as fotografias
vencedoras das oito
edições do prémio de
fotojornalismo.
18—20 Abr
ACTIVIDADEPARALELA GALERIA
FERRER CORREIA
CASA MUNICIPAL
DA CULTURA
10H00—13H00 /
14H30—17H30
ATELIER
DE INICIAÇÃO
AO RETRATO
DE INICIAÇÃO
AO RETRATO
Coordenação
José Pedro
Santa-Bárbara
Projecto em que se pretende envolver jovens e séniores do Concelho de Coimbra, em que os participantes fotografam e são fotografados. As fotografias realizadas serão colocadas nas paredes da galeria ao final de cada dia. Os participantes e respectivas famílias serão convidados a visitar a mostra, com o resultado final no dia 21 de Abril, das 11H00 às 13H00 e das 14H00 às 19H00.
José Pedro
Santa-Bárbara
2 JUN—10 JUL
EXPOSIÇÃO
GALERIA PEDRO OLAYO (FILHO)
CONVENTO
SÃO FRANCISCO TODOS OS DIAS
15H00—20H00
PRÉMIO
ESTAÇÃO IMAGEM
2018 COIMBRA Exposição com as fotografias vencedoras da 9.a edição do prémio de fotojornalismo.
ESTAÇÃO IMAGEM
2018 COIMBRA Exposição com as fotografias vencedoras da 9.a edição do prémio de fotojornalismo.
Co-Organização
Patrocinadores
Parceiros Media
Apoios
Parcerias
PRÉMIO ESTAÇÃO IMAGEM
2018 COIMBRA
PROGRAMA
\17 ABR—30 MAI
SALA DA CIDADE
CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA
Ter a sáb 13h00 — 18h00
Encerra dom, seg e fer
UMA VIDA SELVAGEM Michael Nichols é uma retrospectiva criada pela Visa pour l’Image 2017 e apoiada pela CANON. A exposição baseia-se nos cinco anos de colaboração de Melissa Harris com Nichols – conversas sobre a sua vida e imagens, e as histórias por trás das imagens – culminando num livro, UMA VIDA SELVAGEM: Uma biografia visual do fotógrafo Michael Nichols, publicado pela Aperture, em Junho de 2017.
Todas as fotografias presentes nesta exposição: Photos Michael Nichols /
National Geographic Creative
17 ABR—30 MAI
Michael Nichols
UMA VIDA SELVAGEM
UMA VIDA SELVAGEM
Exposição produzida com O apoio da Canon e Visa Pour l’Image
O fotógrafo Michael Nichols (n. 1952) passou grande parte da sua vida a revelar e a dar visibilidade a alguns dos animais e das paisagens mais selvagens do mundo natural. Enquanto fotógrafo galardoado pela National Geographic, passou por vezes meses consecutivos a documentar em proximidade com animais individualmente (sobretudo grandes felinos, primatas e elefantes) bem como as suas famílias, comportamentos e habitats; sempre em localizações extraordinárias, desde a Bacia do Congo, ao Serengueti, ao Oeste Americano. Nichols foi membro da Magnum Photos durante trinta anos, antes de ser tornar fotógrafo permanente da revista da National Geographic em 1996. Desde aí, completou vinte e cinco histórias para aquela publicação e, em 2008, foi nomeado para o lugar de Editor-at-Large. Em 2007, fundou o LOOK3 Festival of the Photograph em Charlottesville, Virginia. O trabalho final de Nichols para a National Geographic foi desenvolvido no Parque Nacional de Yellowstone e publicado na Primavera de 2016 como parte de um tema único dedicado ao Grande Ecossistema de Yellowstone. Antes disso, no Verão de 2013, a revista publicou o seu ensaio fotográfico sobre o leão do Serengueti, com ênfase particular em dois grupos e também num macho de juba escura de nome C-Boy. Nichols reside actualmente em Sugar Hollow, na Virginia, com Reba Peck, sua mulher e colega há já quarenta anos.
EDIFÍCIO CHIADO
MUSEU MUNICIPAL
Ter a sex
10H00 — 18H00
sáb e dom
10H00 — 13H00 / 14h00 — 18h00
Encerra seg e fer
17 ABR—30 MAI
ISADORA KOSOFSKY
OS TRÊS
OS TRÊS
Exposição produzida com O apoio da Fundação Joana Vasconcelos
Jeanie, 81 anos, Will, com 84, e Adina, com 90 anos, vivem uma relação. “O Triângulo Amoroso dos Três Idosos” é um documentário fotográfico, feito ao longo do tempo, que observa a vida de três pessoas na terceira idade envoltos num conflito amoroso. Vêem a sua ligação como um escudo que as protege da solidão do envelhecimento. Embora a relação de Jeanie, Will e Adina tenha começado num centro de dia em Los Angeles, Califórnia, o mundo exterior é sentido como a sua casa. Para eles, o centro de dia faz pensar na solidão. Tentando encontrar conforto dentro de si mesmos, procuram uma fuga entre os três. Ao descrever o seu laço, Will diz-nos: “Vivemos fora da lei, mas não acima da lei. Não somos uns marginais.”
Através desta relação, Jean, Will e Adina desafiam as normas socioculturais projectadas sobre os mais velhos. Jeanie, reflectindo sobre a sua vida, confia-nos que “Não desejo assumir todas as roupagens da maturidade.” Jeanie procura empoderamento e clarifica: “Quero ser livre.” Para estas pessoas, envelhecer é, paradoxalmente, uma forma de perda mas também de libertação. Tentando encontrar consolo neles mesmos, procurando uma fuga entre eles. Quando faço parte da vida de Jeanie, Will e Adina, sinto que estou a participar numa actividade clandestina, nalguma coisa diferente. A cada dia procurámos uma nova “aventura”, um objectivo. Senti o conforto de fazer parte do grupo. Mas a excitação revelou tristeza. Também eu experimentei o distanciamento que podemos sentir enquanto parte de um grupo, ou de um par. Senti a dor que se instalara debaixo da superfície do seu romantismo.
Conheci Jeanie, Will e Adina num lar em East Hollywood onde eu estava a documentar uma senhora que vivia no 4.o andar. Uma noite, vi Jeanie, Will e Adina a andar em direcção ao portão; Will tinha o braço à volta de Adina e Jeanie caminhava atrás deles. Percebi que o momento estaria relacionado com a separação de Jeanie. Compreendi e identifiquei-me com o sentir daquela impossibilidade de equilíbrio entre os três. Tal como Jeanie costumava dizer: “Partilhar o Will é um mal-estar constante. A relação entre um homem e uma mulher é algo privado. É um casal. Não é um trio.” IK
IK
GALERIA PEDRO OLAYO (FILHO)
CONVENTO SÃO FRANCISCO
TODOS OS DIAS
15H00 — 20H00
17 ABR—27 MAI
MARCO LONGARI
ATÉ À MORTE
ATÉ À MORTE
No meio da auto-estrada cheia de gente, o homem ao meu lado repuxa as roupas do corpo todas molhadas. Respira com dificuldade através do pano que lhe cobre a boca.
Centenas de outros, homens e mulheres, ocupavam o meio da estrada entre as duas faixas. 31 de Agosto de 2016. A Comissão Eleitoral do Gabão acaba de anunciar a reeleição de Ali Bongo Ondimba: o seu segundo mandato após a presidência do país pelo seu pai entre 1967 e 2009. A fila de manifestantes em marcha até à sede da comissão eleitoral é bloqueada a meio do caminho por um grande contingente de polícias de intervenção. Agora estão frente a frente: o gás lacrimogéneo satura o ar, os jactos dos canhões de água ensopam todas as vestimentas. Quando os estouros do gás lacrimogéneo e das balas de borracha começaram a cercar-nos, de repente, o homem move-se; voltando-se e levantando a voz sobre a multidão, diz: “On y va. On va y arriver. Au moins qu’on meurt, on va y arriver.” [“Vamos. Vamos conseguir chegar lá. A não ser que se morra, vamos conseguir.”]
Manter o sentido do comprometimento político no meio de todo este caos não é tarefa fácil. De qualquer modo, como seria possível? O nível de violência ofusca o discernimento. A reacção explosiva, inesperada e total, de milhares de pessoas convergindo de uma só vez, meros estranhos entre si momentos antes, depressa transformada num rio que transborda: movem-se em uníssono ligados por um mesmo destino. É, deveras, uma visão poderosa. O que é que acontece na ausência de uma narrativa política coerente nos lugares onde esta força é reprimida ou desconhecida, misturada com identidades tribais e representada através de actos violentos em vez de bandeiras e slogans?
O activismo político, o seu sentido e necessidade, desenvolve-se com a sua prática: ensaios contínuos capazes de afinar a sua dinâmica, a sua dialéctica.
No meio de outra multidão de milhares de pessoas, debaixo de um céu pesado e encoberto, sou subitamente apanhado por um cheiro característico, um forte cheiro a peixe. Estou em Nairobi, num lugar que tem marcado a história política deste país: o Parque Uhuru – o nome do filho do fundador do Quénia, Mzee Jomo Kenyatta, o primeiro presidente depois da independência. Uhuru Kenyatta é o actual presidente, à espera de ser reeleito. O seu oponente político, Raila Odinga, filho do opositor político do pai de Uhuru, está neste mesmo lugar em celebração – no espaço que carrega o nome do opositor, no final de uma campanha eleitoral agitada pela violência constante. Odinga saiu da corrida eleitoral apelando aos apoiantes para que boicotassem a votação. Os termos do discurso são duros e a campanha é baseada em afiliações tribais. O peixe. Sinto-me a alucinar: um homem traz um cacusso à volta do pescoço. No meio de Uhuru Park, Nairobi.
Os Luo, a tribo à qual Raila Odinga pertence, são pescadores originários das margens do lago Victória. Aquele peixe é o número de recenseamento deste homem.
As lutas políticas em África são travadas em colunas específicas dos jornais locais, em estações de rádio muitas vezes sedeadas na Europa para escapar a proibições locais. O activismo é exercido em círculos restritos, raramente põe a cabeça de fora e, quando o faz, é muitas vezes imediatamente reprimido.
A África do Sul é uma excepção: uma sociedade levada ao limite na época do apartheid, criou uma identidade política que conseguiu reunir a massa da população para lá da divisão racial. Esta distinta característica política, estruturada e educada, deve muito do seu sucesso a grandes homens, a um corpo de literatura e a uma coreografia bem ensaiada. A nação de Mandela celebra todos os dias o seu lugar político. Os protestos, as lutas, são pontuados por uma banda sonora capaz de catalisar milhares de pessoas: tornam-se num coro, um coro político muito definido e poderoso. A violência é um instrumento: um elemento fulcral na sua estratégia de comunicação.
Noutros contextos, por contraste, a violência torna-se a voz de uma expressão política que de outro modo estaria ausente. Sem uma ocorrência diária, sem dissolução e sem um fervilhar contínuo, explodiria de uma só vez. Ardendo rapidamente, não se consegue conter – e aqueles que estão no poder irão deparar-se com o povo nas ruas, forçando sem tréguas, exigindo, desejando. Apenas por uns dias ou por um tempo muito curto. Por vezes, prolonga-se por horas. Todos sabem que aqueles homens e mulheres precisam de ir trabalhar para sustentar as suas famílias. O activismo político é um luxo que muito poucos conseguem suportar.
Os dois turistas britânicos, de meia idade e peles cor-de-rosa de escaldão, mantinham-se na esquina da rua a ver os soldados gambianos a saltar aos pares de um camião militar, tomando posição a cada duzentos metros na avenida principal, pouco acima de uma zona mais cuidada onde estão vários hostels. Dois dias antes, a Gâmbia tinha ido a votos para reeleger Yahya Jammeh, um ditador excêntrico e brutal que comandou este pequeno país da África Ocidental ao longo de 22 anos. Por entre o tom tímido do protesto político antes da votação, os activistas quase que sussurravam os slogans: caras de precaução revelavam uma afiliação política sem futuro à vista. Quando, depois de um suspense de dois dias, o governo cortou o acesso à internet e pôs os militares nas ruas, os turistas do Thomas Cook “£750 tudo incluído” acordaram com os tanques posicionados nos principais cruzamentos ficaram a pensar se valeria a pena passar mais uns dois dias no resort fechados e sob o olhar atento de um soldado armado. Adama Barrow, o barão do imobiliário tornado líder da oposição, viu-se eleito presidente do país no final daquele dia agitado: Jammeh perdera as eleições e aceitara a derrota e saída do poder num memorável discurso transmitido à noite pela televisão. Os mesmos activistas que tinham desfilado timidamente sussurrando os seus slogans nas ruas de Banjul viram-se de repente do lado dos victoriosos – a alegria e o sentimento de alívio explodiram com a mesma timidez composta com que antes expressavam a sua revolta contra o ditador.
A força da coesão produz a mudança. Por vezes, súbita e de grande impacto, como o golpe de Estado no Zimbabué ou esta história na Gâmbia. Outras vezes, mudanças subtis, quase imperceptíveis, como no Quénia.
Se existe um ponto comum no processo de transformação da identidade política em África, esse ponto parece ser a certeza colectivamente partilhada de que o tempo dos regimes monolíticos já devia ter terminado. Porque, nos momentos mais difíceis, a coesão política no continente africano emerge sob a forma de uma vontade indómita de transformação: uma vontade feita de necessidade, de determinação, e de um activismo confiante e incansável.
O homem ao meu lado junto à barricada a arder, em Nairobi, limpa a cinza da cara. Dezenas de outros, todos homens, ficaram até ao final da noite depois do anúncio da reeleição de Uhutu Kenyatta na segunda volta das eleições presidenciais do Quénia. Estamos a 30 de Outubro de 2017. Das varandas do edifício de cinco andares ao longo dos dois lados da rua, até ao centro do bairro de lata de Mathare, começam a erguer-se vozes acima do silêncio. Umas insultam a polícia de intervenção, outras gritam alto o nome do líder da oposição, Odinga. Em partes distintas do edifício consegue-se ouvir pessoas a tossir por causa do gás lacrimogéneo que paira no ar. À medida que o tumulto vai acalmando, o homem sai dali em direcção à entrada de um dos prédios. Quando me afasto para o deixar passar, ele levanta a cabeça e diz-me: “Vou vê-lo aqui amanhã?”
“Vão comecar outra vez amanhã?”
“Claro que vamos, Mpaka mwisho”, diz-me em Swahili. “Até ao fim. Até à morte.”
ML Joanesburgo, Fevereiro 2018
GALERIA PINHO DINIS
CASA MUNICIPAL DA CULTURA
Seg a sex
09H00 — 19H30
sáb
11H00 — 13H00 / 14H00 — 19H00
Encerra dom e fer
17 ABR—30 MAI
AMY TOENSING
VIÚVAS
VIÚVAS
projecto financiado pelo Pulitzer Center e pela National Geographic Magazine, com apoio do Visa Pour l’Image
Em muitas regiões do mundo, a viuvez é vista como a morte social da mulher levando à sua marginalização e à dos seus filhos. Nestas culturas, a mulher é usualmente definida pela sua relação com um homem: primeiro enquanto filha e, mais tarde, como esposa. Quando o marido morre, ela torna-se um elemento à margem da sociedade. Quase sempre sem estudos e sem forma de se sustentar financeiramente, a mulher torna-se um alvo fácil de abuso. Mesmo que possa ser herdeira de terras ou dinheiro, normalmente desconhece os seus direitos, o que leva a família do marido a afastá-la facilmente ficando-lhe com os bens que eram seus por direito. Por vezes, torna-se ela mesma um objecto de “herança” sendo passada como esposa a um irmão do marido falecido.
Na Índia, o estigma associado às viúvas está fortemente enraizado no hinduísmo. Alguns hindus acreditam que quando a mulher é pura e fiel, tal protegerá o marido da morte – ostensivamente, ela é vista como culpada pela morte do marido. Em casos extremos, a viúva comete suícidio lançando-se à pira de cremação do marido. A prática – ou Sati, em hindu – foi abolida legalmente no início do séc. XIX. Porém, existem ainda algumas comunidades que acreditam no luto como o único destino permitido à viúva para o resto da sua vida. Hoje em dia, dos 40 milhões de viúvas que existirão por toda a Índia, vários milhares procuram refúgio em cidades sagradas como Vrindavan ou Varanasi, onde cumprem uma pena perpétua: com o cabelo cortado, vestidas de branco, e celibatárias para sempre. No entanto, as novas gerações estão a rejeitar estas expectativas provocando assim uma mudança profunda. Um ashram organizou uma festa aquando das festividades Holi e, segundo o relato do The Times of India: “Dançavam e soltavam risos entre as lágrimas. Lançavam flores umas às outras enquanto brincavam com gulal. Por entre uma parafernália de cores, as viúvas de Vrindavan celebraram o Holi desafiando a tradição que as obriga a ficar longe de qualquer tipo de festa.”
AT
CÍRCULO DAS ARTES PLÁSTICAS DE COIMBRA — ESPAÇO SEREIA
Ter a sáb
14H00 — 18H00
Encerra DOM, seg e fer
17 ABR—30 MAI
PATRICK BAZ
CRISTÃOS DO LÍBANO
CRISTÃOS DO LÍBANO
Exposição produzida com O apoio da Fundação Joana Vasconcelos
Depois de ter posto um fim à minha carreira como fotógrafo de guerra à volta do mundo, decidi voltar às minhas raízes, ao Líbano, para recarregar baterias.
Quando regressei a casa, encontrei toda a região em tumulto por causa do massacre de cristãos e de outras minorias perpetrado por grupos islâmicos.
Ao longo de várias conversas, era constantemente confrontado com as mesmas perguntas; perguntas que pareciam inquietar os membros da comunidade cristã: “Será que ficamos aqui? Será que eles nos expulsam? Irão perseguir-nos?” Olhavam para mim como se eu, por ter sido correspondente de guerra e ter estado em várias zonas de conflito, tivesse resposta.
Surpreendeu-me também a crescente visibilidade da identidade da comunidade e a abundância de símbolos ostensivos.
Cruzes e estátuas de santos do Levante eram erguidas no topo das colinas marcando o território, as procissões religiosas desfilavam nos espaços públicos, imagens sagradas e crucifixos adornavam as entradas dos edifícios, carros e estradas de montanha. Foi aí que percebi: não havia um testemunho visual dos cristãos do Líbano no século XXI. Nenhuma abordagem contemporânea que pudesse ajudar a definir, verdadeiramente, a situação da comunidade actualmente. Quem são os cristãos do Líbano? O que fazem? Como vivem? Estas e muitas outras perguntas intrigavam-me.
E assim parti numa viagem à descoberta de uma comunidade à qual pertenço, teoricamente, de acordo com o meu certificado de estado civil; a mesma comunidade onde eu cresci, e as gentes com as quais estive lado a lado a minha vida inteira. Todas as manhãs, dediquei-me a explorar um aspecto do modo de vida cristão no Líbano de hoje. Descobri histórias, devoções, lugares e pessoas. Captando a imensidade do que testemunhava. Nunca tive intenção de enveredar por uma abordagem histórica ou temática sobre o assunto; em vez disso, tentei uma abordagem visual e humana, sem julgamentos de valor. No fundo, captei apenas o que vi.
Voltei desta jornada com convicções, afirmações, surpresas e possibilidades. Convido-os a todos a partilhá-las comigo.
PB
CÍRCULO DAS ARTES PLÁSTICAS
DE COIMBRA — ESPAÇO SEREIA
Ter a sáb
14H00 — 18H00
Encerra DOM, seg e fer
17 ABR—30 MAI
FERHAT BOUDA
BERBERES EM MARROCOS
UMA CULTURA DE RESISTÊNCIA
BERBERES EM MARROCOS
UMA CULTURA DE RESISTÊNCIA
“Uma cultura não é apenas um legado que se herda,
é também uma visão que se aceita.”
Mouloud Mammeri
Escritor cabila, antropólogo e linguista
Os berberes, ou povo Amazigh (i. e. povo livre), são os habitantes mais antigos do Norte de África. Ao longo de milhares de anos, têm vivido numa terra vasta desde a costa atlântica de Marrocos ao Oásis de Siwa no Egipto. Têm a sua própria língua e tradições culturais, mas a sua identidade está hoje ameaçada. Sem aspirações a serem uma nação, alguns berberes vivem como nómadas, outros como sedentários; há também muçulmanos, cristãos e judeus. Alguns líderes políticos do Norte de África suspeitam que sejam hereges e tem-nos oprimido, devastando comunidades, assimilando-os e por vezes perseguindo-os. Cada dia é uma luta pela manutenção da sua identidade.
A maioria dos berberes estão em Marrocos, por isso fui até lá: até à aldeia de Tinfgam no Alto Atlas, quase 2000 metros acima do mar; uma jornada que acabou a pé, durante três horas numa estrada empoeirada. As casas são feitas de pedra e barro ou então são grutas nas montanhas ou em encostas íngremes. Os aldeões são fortes e calmos. Mas estas comunidades são ignoradas pelo governo que, intencionalmente, as marginaliza. Não há nenhum posto de saúde ou escola; nenhuma infra-estrutura de educação ou de saúde, nem electricidade. Mas os berberes são almas independentes – com a sua prática e extenso conhecimento do ambiente natural, são auto-suficientes, cultivando a terra ou criando cabras. O seu estilo de vida está intimamente ligado à terra onde vivem, e cada dia segue a ordem ditada pela natureza. Pode não haver segurança material, mas a atmosfera da aldeia é acolhedora, como uma grande família. Aqui as mulheres têm um papel central, pois os homens normalmente vão para longe em busca de trabalho noutros ofícios. Como resultado, as mulheres tornam-se a memória viva do povo Amazigh, da sua tradição e cultura.
Visitei também a aldeia de Timetda, na província de Tinghir, onde me deparei com a mesma filosofia de vida. As duas aldeias são muito parecidas na forma como são geridas e nos princípios. Timetda é de acesso mais fácil, perto da estrada; algumas casas têm electricidade, mas, também aqui, os aldeões sentem-se ignorados e ostracizados pelas autoridades locais. Tal como a comunidade em Tinfgam, a população de Timetda sente-se profundamente enraizada nas suas tradições e também orgulhosos e determinados em afirmar a sua identidade com a sua língua e a sua cultura. Este é, claramente, um acto de desafio, resistindo às tentativas de assimilação e de votar a sua identidade ao esquecimento.
A esperança e o futuro deste povo depende inteiramente da passagem dos seus valores e cultura para as gerações futuras, tal como praticados e guardados ao longo de milhares de anos. A terra tem uma importância crucial: tem de ser defendida da constante perturbação que a ameaça há séculos. Uma terra generosa, uma terra que acolhe o povo que ali vive num espírito de harmonia. Este meu trabalho documental sobre o povo berbere, que vive na sua própria terra, pode ser visto num contexto de resistência e de uma cultura tradicional que permanece firme.
FB
é também uma visão que se aceita.”
Mouloud Mammeri
Escritor cabila, antropólogo e linguista
CÍRCULO DAS ARTES PLÁSTICAS
DE COIMBRA — ESPAÇO SEREIA
Ter a sáb
14H00 — 18H00
Encerra DOM, seg e fer
17 ABR—30 MAI
NIELS ACKERMANN
ANJO BRANCO
AS CRIANÇAS DE CHERNOBYL JÁ CRESCERAM
ANJO BRANCO
AS CRIANÇAS DE CHERNOBYL JÁ CRESCERAM
“Aqui morrem mais pessoas por causa das drogas e do álcool do que da radioactividade.” Este foi o comentário de Kiril junto à sepultura do seu melhor amigo, falecido depois de ter caído de uma varanda numa noite de bebedeira.
Em Abril de 2016, o mundo assinalava o 30.o aniversário sobre o desastre de Chernobyl. Em vez de me focar no impacto, escolhi olhar para o futuro – passei três anos captando a mais nova geração da mais nova cidade da Ucrânia, Slavutych, uma cidade construída em resposta ao desastre.
A reportagem segue Yulia, uma adolescente que se foi tornando uma jovem adulta à frente da minha máquina fotográfica. Ao longo de meses, a sua vida de festas, parceiros de uma só noite e de bebida, foi deixada para trás quando arranjou um emprego, responsabilidades e se casou. Com o consentimento de Yulia e dos seus amigos, segui-os ao longo de um período crucial, no qual os adolescentes decidem o que fazer das suas vidas, escolhem parceiros e amigos, e decidem o que querem ser.
Foi, pois, um período de transformação não só para eles mas também para o país, entretanto apanhado num conflito violento com o país vizinho, a Rússia. A juventude de Slavutych e, no fundo, a de toda a Ucrânia, terá de emendar os erros dos pais e de construir um futuro de paz e de prosperidade.
Slavutych, uma cidade no meio da floresta a apenas 50 quilómetros da Central Nuclear de Chernobyl, foi planeada para ser uma cidade bela e demonstrativa da grandeza da União Soviética. O último reactor nuclear ainda em funcionamento foi fechado no ano 2000. A partir daí, a economia da cidade dependeu da construção da nova estrutura de contenção e de várias subvenções. Agora, terminado o “sarcófago” e com os trabalhadores no desemprego, o que irá garantir o futuro desta cidade e abrir oportunidades à geração mais jovem?
NA
ANTIGA PRISÃO ACADÉMICA
DA BIBLIOTECA JOANINA
Todos os dias
10H00 — 18H00
17 ABR—30 MAI
MÁRIO CRUZ
TALIBES
TALIBES
REPORTAGEM vencedora do Prémio Estação Imagem 2016 Viana do Castelo
Talibe é um termo árabe para discípulo. O que deveria ser uma escola, é muitas vezes um local de tortura. O que deveria ser um sistema de educação é, frequentemente, um sistema de exploração. No Senegal, existem centenas de escolas corânicas (daaras) onde se encontram aprisionados rapazes, dos 5 aos 15 anos, que são obrigados a mendigar nas ruas oito horas por dia para manter o seu marabout (professor). Estas falsas daaras estão constantemente superlotadas. Malária, doenças da pele, problemas pulmonares e parasitas estomacais são comuns. Milhares de talibes sobrevivem durante anos nestas condições, enquanto outros fogem para as ruas, onde ficam vulneráveis a novos abusos. O número de talibes está a aumentar e, de acordo com a Human Rights Watch, mais de 50 mil rapazes estão sujeitos à mendicidade forçada, registando 30 mil talibes só na região de Dacar. O tráfico de crianças desempenha um papel crucial nos números de hoje. A maioria dos talibes são senegaleses mas o número de crianças traficadas de países vizinhos, como é o caso da Guiné-Bissau, aumentou. Os abusos físicos são conhecidos pela sociedade, mas não são vistos porque permanecem no interior das daaras, escondidas em locais proibidos. Os guardiões estão conscientes dos crimes que cometem e continuam este sistema de exploração na escuridão, sem medo de que a lei seja aplicada contra eles.
MC
ALA DO JARDIM
MUSEU DA CIÊNCIA
Todos os dias
09H00—13H00 / 14H00—19H00
17 ABR—30 MAI
João Ferreira
ARQUIPÉLAGO
ARQUIPÉLAGO
REPORTAGEM vencedora na categoria Vida Quotidiana, Prémio Estação Imagem 2017 Viana do Castelo
Numa era cujo ambiente social se caracteriza pela sua enorme mutabilidade, Arquipélago mostra-nos pessoas autênticas
em contextos reais, numa África insular carente de recursos naturais. O ensaio fotográfico de João Ferreira (Leiria, 1976) é um mergulho em duas ilhas de um arquipélago que tem nome de país: Cabo Verde. Realizado entre a Primavera de 2015 e o Inverno de 2017, nas ilhas de São Vicente e Santo Antão, este trabalho apresenta-nos uma visão despida de filtros e ilusões, que demonstra a força da fotografia na documentação de uma realidade de um país jovem, a comemorar quatro décadas de independência. Arquipélago percorre os trilhos de um território com uma identidade única, mistura de amor pela música, pelo futebol e pelo mar, com um olhar poético sobre a humanidade.