Mensagem Presidente do Júri

«No fundo, cartões de memórias para não esquecer…»


AS REPORTAGENS COMO OBRAS DE ARTE?

A arte ao serviço das histórias, das notícias, um outro modo de «contar», de interpelar, agora que a imprensa das grandes revistas desaparece. Com o apoio das galerias, dos coleccionadores, dos prémios como este em Coimbra, onde os vencedores poderão prosseguir o seu trabalho, graças a este reconhecimento recente. A fotografia de reportagem conquistou, de há alguns anos para cá, o novo território da Galeria. Conquistou deste modo as superfícies das paredes, mas perdeu a do papel. A derrocada da revista de notícias explica em parte esta passagem de um universo para outro. Esta migração de uma economia do múltiplo para a do único transforma profundamente a foto-reportagem. Por um lado, porque sacraliza os fotógrafos tornados artistas: o trabalho destes é assimilado a uma obra com o risco de desviar o olhar do consumidor, que já não procura a informação, mas sim o prazer da estética. Por outro lado, porque modifica o estatuto das próprias fotografias, que oscila num registo estranho à sua natureza documental, apresentando outras relações com a realidade. Assim sendo, acontecimentos como este, que permitem aos «novos» talentos exprimirem-se e encontrarem os meios para continuar a contar as suas histórias, são essenciais, para que nunca nos esqueçamos e para que não se volte a ouvir «não sabíamos».

Tornar visível os «Invisíveis», como aqui a história dos «sem luz», do cego desportista, do despovoamento no centro de Portugal, dos jovens toureiros que sonham com a glória, e os mais de dez indivíduos que ficarão na memória colectiva, graças a este encontro e à paixão de todos estes fotógrafos que crêem no que fazem. É sempre um privilégio descobrir e dar a conhecer os futuros talentos (mesmo que alguns deles precisem de melhorar).

E, por fim, o prazer de trabalhar ao lado dos meus prestigiosos colegas e, nalguns casos, amigos...

Obrigado, Luís, por esta oportunidade que me permite descobrir estas histórias e os seus autores.

Ainda assim, atenção ao estetismo!

PATRICK CHAUVEL JULHO 2020